Dezenas de delegações em Luanda. Angola assinala 50 anos da independência
Angola celebra esta terça-feira os 50 anos da independência do país. Nas cerimónias em Luanda, durante a manhã, estiveram presentes dez mil convidados, entre os quais 14 chefes de Estado e de Governo.
O presidente angolano afirmou também que Angola "olha para o mundo (...) com apreensão", e criticou "a confrangedora banalização da vida humana" nas guerras e a "impotência" das Nações Unidas face aos conflitos mundiais.
"Olhamos para o mundo de hoje com apreensão, porque assistimos a uma confrangedora banalização da vida humana nas guerras e nos conflitos que assolam este nosso planeta", afirmou João Lourenço, acrescentando que tudo isso viola as normas do direito internacional e que regem as relações entre os Estados.
O chefe de Estado de Angola lamentou ainda que a Organização das Nações Unidas se revele impotente para ajudar a impor a ordem e fazer face aos excessos das grandes potências.
Lourenço defendeu o multilateralismo, por ser o único modelo inclusivo e capaz de congregar todas as nações do planeta à volta da abordagem dos grandes, e insistiu na necessidade de reforma do sistema das Nações Unidas, por não refletir mais a realidade do equilíbrio de poderes e da configuração geopolítica mundial.
O Presidente angolano disse que o país tem uma sensibilidade "muito especial" para as questões da guerra, da paz e da liberdade e independência dos povos, por ter passado por essa experiência e vivido várias décadas em conflito, evocando a sua própria história.
O chefe de Estado recordou que Angola esteve ao lado dos povos da Namíbia, do Zimbabué e da África do Sul, contribuindo para o fim do regime de segregação racial, e apelou ao fim da guerra contra a Ucrânia e à resolução do conflito no Médio Oriente, sublinhando a "imperiosa necessidade da criação do Estado da Palestina".
O Presidente manifestou também preocupação com a situação no Sahel, no Sudão e na República Democrática do Congo, onde "as guerras ameaçam a balcanização desses países", bem como com "o flagelo dos golpes de Estado e das mudanças inconstitucionais em África", que "voltaram a ganhar força e contornos preocupantes".
"Estamos muito preocupados com o reaparecimento e a proliferação de grupos terroristas em determinados pontos do nosso planeta e de África em particular", lamentou.
O presidente da Angola reconheceu que há ainda muito para fazer no país. Na cerimónia que assinala os 50 anos da Independência, João Lourenço sublinhou que é preciso valorizar as conquistas.
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"Passos firmes para romper o ciclo de subdesenvolvimento"
João Lourenço, depois de recordar o percurso do país desde a independência, assegurou que Angola tem dado “passos firmes para romper o ciclo subdesenvolvimento” em que se situa.
“Por isso, entre outras ações, temos feito apostas decisivas em infraestruturas de produção de energia elétrica, sem as quais não podemos industrializar o país, em alinhamento com as tecnologias mais modernas do mundo”.
Segundo o presidente angolano, o país dispõe agora de “uma produção de energia elétrica suficiente para” as atuais necessidades, mas o objetivo é, “tão rapidamente quanto possível, levar a todos os cantos do território nacional e vender aos países” vizinhos.
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Angola esteve para ser "colonizada duas vezes" em pouco tempo
Dirigindo-se aos angolanos, o presidente recordou “a caminhada difícil” em que o país foi forçado “a transpor obstáculos e a enfrentar situações complexas no contexto da Guerra Fria” e em que teve de se bater pela “preservação” da independência e soberania nacional. Após “vencer o colonialismo português, que nos oprimiu e escravizou durante séculos”, Angola teve de “enfrentar o regime retrógrado do apartheid, que representava uma ameaça permanente aos povos de África Austral e de Angola em particular”.
“Uma vez conquistada a paz e criadas as premissas para uma reconciliação nacional, aproveitamos esta oportunidade única para construirmos juntos uma sociedade inclusiva e com igualdade de oportunidades para todos os cidadãos”, continuou João Lourenço, embora reconheça que os “desafios são enormes”.
Angola continua a trabalhar para desminar o território após a guerra.
“Estamos cientes de que há ainda muito por fazer e que a grande obra da promoção do desenvolvimento de Angola não é realizável em apenas duas décadas de paz”, afirmou o chefe de Estado no discurso. “É por isso preciso que cada angolano saiba preservar e valorizar as conquistas alcançadas, para que juntos possamos construir um futuro melhor e Angola se possa orgulhar dos seus filhos”.
O presidente angolano começou, com mais de uma hora de atraso, o discurso que inicia as cerimónias.
“Tenho o privilégio e a honra de acolher as ilustre figuras que aceitaram convite para partilhar connosco este momento único da história recente de Angola”, começou.
Numa data como a de hoje, lembrou João Lourenço, recorda-se o “saudoso” Agostinho Neto que “proclamou sob o soar dos canhões a independência nacional de Angola, tornando-se assim o primeiro presidente” do país.
“Cabe-me a grande responsabilidade, 50 anos após este dia histórico de vos dar a boas vindas a Angola”, declarou, dirigindo-se aos chefes de Estado e de Governo presentes.
“A vossa presença ilustra a profundidade e amplitude dos laços históricos de amizade e cooperação, que nos ligam há décadas – os quais temos procurado, num quadro de esforço comum, preservar e reservar com a perspetiva de contribuirmos para a prosperidade dos povos de cada um dos nossos países”.
O presidente do Conselho Europeu sai a público para assinalar o "marco histórico" dos 50 anos da independência angolana e manifestar a expectativa de uma "parceria cada vez mais forte" com a União Europeia.
"Parabéns a Angola e ao povo angolano. Há 50 anos, a independência de Angola deu início a uma nova era de esperança e possibilidades para o continente africano, com o fim do colonialismo europeu", escreve António Costa no X.
"Enquanto nos preparamos para nos reunirmos em Luanda para a Cimeira UE-União Africana em novembro deste ano, prestamos homenagem a este marco histórico e celebramos uma parceria cada vez mais forte, baseada no respeito mútuo, em oportunidades partilhadas e numa visão comum para os próximos 50 anos", acrescenta o antigo primeiro-ministro português.
Congratulations to Angola and the Angolan people. Fifty years ago, Angola’s independence initiated a new era of hope and possibility for the African continent with the end of European colonialism.
As we prepare to meet in Luanda for the EU-African Union Summit this November, we…
A União Europeia é o maior bloco exportador para Angola e o segundo maior parceiro comercial do país. Em 2022, o comércio de bens e serviços entre a Europa e os países africanos cifrou-se em 504,3 mil milhões de euros.
Angola está já a celebrar os 50 anos da independência. Concentrados na Praça Central, no centro de Luanda, aguardam já cerca de dez mil convidados, de 45 delegações estrangeiras, pelo ponto alto das comemorações.
É um dia de festa em que se realizará um desfile civil com seis mil participantes, representando todos os segmentos da sociedade angolana.
Segue-se um desfile militar com quatro mil efetivos das Forças Armadas angolanas e da Polícia Nacional. A cerimónia termina com a apresentação da música oficial dos 50 anos da independência.
O presidente António Agostinho Neto vai ser condecorado a título póstumo com a medalha de honras.
Comemorações que começaram com o depositar de uma coroa de flores no memorial dedicado a Agostinho Neto - fundador da nação – e primeiro presidente de Angola, como relata José Silva, correspondente da RDP África.
Armindo Laureano, diretor do semanário Novo Jornal, em Luanda, ouvido esta manhã pela Antena 1, fala de um dia especial para Angola e para os angolanos.
É um dia de festa, mas os tempos são difíceis para muitos angolanos.
Há 50 anos que Angola define o seu próprio destino e as três décadas de guerra civil que se seguiram à guerra colonial tolheram o passo aos angolanos.
O jornalista da Antena 1 Luís Peixoto andou em reportagem pelo país e encontrou uma nação que ainda se move a duas velocidades.
Dez mil convidados, 45 delegações internacionais. É este o escopo da cerimónia planeada para esta terça-feira na capital angolana, Luanda. Dia em que se comemoram cinco décadas desde a independência do país africano, proclamada a 11 de novembro de 1975.
"Celebrar 50 anos é um acontecimento único e insólito", afirmou na véspera Adão Almeida, ministro de Estado e chefe da Casa Civil do presidente angolano. Para trás fica, nas palavras do mesmo responsável, citado pela agência Lusa, uma "longa jornada de preparação" de um acontecimento destinado a celebrar a unidade nacional "de um povo que se libertou do colonialismo, conquistou a paz e trabalha afincadamente para o desenvolvimento do país".As cerimónias têm lugar na Praça da República e contam com a presença de delegações das 18 províncias de Angola e "dos mais diferentes níveis" de vários países. Luanda recebe assim chefes de Estado, vice-presidentes, primeiros-ministros e ministros dos Negócios Estrangeiros.
Estão credenciados 350 jornalistas para a cobertura deste acontecimento.
Em desfile cívico vão estar perto de seis mil participantes, representando "os mais diferentes segmentos da sociedade angolana". Segue-se o desfile militar com quatro mil efetivos das Forças Armadas Angolanas e da Polícia Nacional.
Antes do encerramento, com a apresentação da música oficial dos 50 anos da independência, será realizada a condecoração póstuma, com a Medalha de Honra, de Agostinho Neto, proclamador da independência nacional e presidente angolano. O atual presidente, João Lourenço, fará o discurso à nação.
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, participa nas celebrações angolanas acompanhado pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e deputados.
"Nesta visita, que constituirá um momento muito significativo na relação de estreita cooperação e profunda amizade entre Portugal e Angola, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa será acompanhado pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e por um deputado de cada grupo parlamentar da Assembleia da República", indicava no domingo uma nota publicada no portal da Presidência da República.A deslocação do presidente da República a Angola foi aprovada por unanimidade na Assembleia da República.
É a sétima deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa a este país, onde esteve nas tomadas de posse do presidente João Lourenço, em 2017 e 2022, e realizou uma visita de Estado em 2019.
Marcelo esteve ainda em Angola para a cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Bienal de Luanda - "Fórum PAN-Africano para a Cultura de Paz", em 2021, além do funeral de José Eduardo dos Santos, em 2022. "Um momento único"
À chegada a Luanda, o presidente da República desvalorizou o anterior "irritante" nas relações com Angola, enfatizando que estas vivem atualmente "um momento único" e com um "futuro promissor para ambos os povos".
Marcelo Rebelo de Sousa falou aos jornalistas depois de um breve encontro, no Palácio Presidencial, com o chefe de Estado angolano, João Lourenço.Já num encontro com portugueses, na residência do embaixador em Luanda, o presidente teceria elogios à comunidade portuguesa em Angola, dando destaque à "resistência e persistência" daquels que optaram por ficar no país em contextos difíceis.
"Os grandes vencedores têm sido os portugueses e angolanos que persistiram e ganharam", vincou, para assinalar que, em dez anos, apenas dois ue não correram bem, devido ao denominado "irritante" nas relações bilaterais, ou seja, o processo judicial contra o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente, que não chegou a julgamento.
Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, afirmou que Portugal é "um exemplo paradigmático" de como se pode ultrapassar as dificuldades da História, destacando as relações com Angola: "Se olhar para países que tiverem, nos seus séculos, nos seus tempos, domínios coloniais e olharmos para as relações desses países, antigos colonizadores e ex-colónias, Portugal é um exemplo paradigmático de como é possível ultrapassar os nós difíceis da História".
O embaixador de Portugal em Angola, Francisco Alegre Duarte, declarou também na segunda-feira que os dois países tiveram a capacidade de "construir uma relação que assenta na igualdade e no respeito mútuo".
"Amanhã fechamos o ciclo das comemorações interligadas dos 50 anos do 25 de Abril e da Independência de Angola. Será um dia memorável. Não obstante o passado colonial, a guerra e toda a turbulência que se seguiu à independência, fomos capazes de construir uma relação que assenta na igualdade e no respeito mútuo. Devemos estar orgulhosos deste percurso", frisou o diplomata.
c/ Lusa
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"Vida difícil". Angolanos revoltados nos 50 anos de independência